Iniciar o desfralde: passo-a-passo!

Antes de começares a entrar mais em detalhe sobre técnicas e estratégias para ajudares a criança a usar a sanita, coloca estas questões a ti mesmo/a: Fico assustado/a com a ideia de ensinar a criança a usar a casa de banho? Ou sinto-me bastante entusiasmado/a e motivado/a para começar esta nova aventura com ela? :-)Refletir sobre estas questões é fundamental antes de se iniciar o processo. A atitude tem um impacto bem maior do que aquele que achamos. Por isso, é importante que ao longo desta nova aventura te sintas relaxado/a e confortável com o caminho e eventuais percalços que possam acontecer. As idas à casa de banho são um grande passo para a criança. Desta forma, ela pode querer controlar como e quando o faz. Se estiveres tenso/a e desconfortável, podes estar, inconscientemente, a transmitir essa insegurança e incerteza. A criança irá perceber isso e pode relacionar com toda a experiência da ida à casa de banho.Por isso, em primeiro lugar, percebe como te sentes em relação a esta fase: Sentes-te à vontade com a ideia de a sua criança ainda não usar a casa de banho e quer que comece a usar rapidamente? Ficas receoso/a quando pensas que poderás ter de limpar os descuidos de xixi e cocó que poderão acontecer pelo caminho? Ou sentes-te confiante e relaxado de iniciar esta aventura ao ritmo da sua criança?Se sentes mais o desconforto, não há problema algum, é compreensível. No entanto, nesse caso, recomendamos que não inicies já esta etapa, aguarda até que te sentires 100% à vontade. Dá tempo a ti próprio/a e o espaço necessário até te sentires verdadeiramente preparado/a. Mas se, por outro lado, te sentes bem e confortável, então vamos lá começar!

1. Avalia se a criança está pronta

O primeiro passo é perceber se a criança está pronta para usar a sanita. Para isso, recomendamos a leitura do seguinte artigo: Checklist para o desfralde

2. Desmistifica o que acontece na casa de banho

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Começa por mostrar à criança que as idas à casa de banho e o que lá acontece não tem nada de mal.Fala abertamente sobre o assunto - que é algo natural, saudável, divertido e que faz parte de sermos seres humanos. Da próxima vez que trocares a fralda à criança e ela fizer cocó, por exemplo, mostra-lhe de forma sorridente e partilhe com ela como ela conseguiu, que o corpo dela é incrível e está a fazer exatamente o que é suposto fazer. De seguida, vão em conjunto colocar a fralda no lixo, para a criança perceber para onde vai e ter noção do processo todo.Algumas crianças são aprendizes visuais e precisam de ver as coisas a acontecer para as entenderem. Outras crianças precisam de tempo para processar e talvez precisem de ouvir um conceito ou ideias várias vezes. Outras precisam de explicações e exemplos da nossa parte.

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Também podes anunciar orgulhosamente cada vez que vais à casa de banho. Explica de forma entusiástica que estás a sentir algo na tua barriga, na parte de baixo do abdominal, uma sensação de empurrar para baixo e que está na hora de ir usar a sanita. Partilha com a criança e até podes convidá-la a ir contigo para lhe mostrares o que acontece quando se vai à casa de banho. Se a criança aceitar ir contigo, torna o momento divertido. Talvez ela possa puxar o autoclismo ou acenar para dizer adeus enquanto o xixi/cócó desaparece sanita abaixo. Pode parecer estranho, mas para algumas crianças é importante ver o cocó na sanita para perceber o que acontece e reconhecer que o cocó delas também deve estar lá. Da mesma forma, acontece com o xixi, leva a criança contigo, para ouvir o som do xixi a cair enquanto conversas com ela sobre o que está a acontecer de forma animada - "Yahoouuu estou a fazer xixi na sanita. Sinto-me muito melhor agora que estou a fazer xixi."Se por acaso a criança não quiser ir contigo, não tem mal nenhum. Partilha a tua experiência na mesma: "Acabei de fazer cóco e sinto-me muito melhor e bem mais leve. Limpei-me e agora sinto-me bem fresco e limpo."E, quando outra pessoa usar a casa de banho, felicita-a quando sair, por exemplo com um mais cinco. Vamos mostrar à criança que as idas à casa de banho não têm nada de assustador, antes pelo contrário, podem ser bastante divertidas!

3. Ajudar a criança a ter consciência de quando deve usar a sanita

Uma coisa que é essencial para ajudar a criança neste processo é ensinar-lhe como o próprio corpo funciona e que coisas é que é normal sentir nessas situações. Nós sabemos quando temos xixi e sabemos quando temos cocó. Isto acontece porque os nossos corpos nos dão mensagens diferentes.Queremos explicar isto à criança para que ela consiga ler os sinais do seu corpo. Por isso, é importante que lhe expliques o que tu sentes, ao detalhe, em cada uma das situações. Para nós pode ser óbvio, mas não quer dizer que o seja para a criança. No entanto, é um passo muito importante neste processo.

4. Torna a casa de banho um lugar divertido

Pensa maneiras de tornar a casa de banho mais convidativa e apelativa para a criança. Recorre às suas principais motivações, por exemplo, decorando a sanita com aquilo que ela mais gosta. Assim, se gosta de carros, cola carros à volta da sanita; se gosta de números, crie um caminho com números até à casa de banho, etc.Procura que a casa de banho esteja adaptada em termos de estímulos sensoriais. Por exemplo, atenção a luzes, cheiros dos sabonetes e ambientadores, barulho do autoclismo, etc.Aproveita para passar mais tempo, com a criança, na casa de banho. Por exemplo, se for possível, faz a troca da fralda na casa de banho. Se estiverem a brincar às cavalitas, por exemplo, faz um passeio até à casa de banho. Se a criança adora o Mickey, coloca um peluche do Mickey na casa de banho, senta-o na sanita e finje descarregar o cocó ao usar uma voz engraçada. A ideia aqui é ser divertido e relaxado, convidar e motivar, mas sem forçar.

5. Vamos retirar a fralda!

Agora que estás confortável com esta aventura e já deste os primeiros passos para mostrar à criança o que acontece na casa de banho e para ajudá-la a reconhecer os sinais está na hora.... É agora!Compra cuecas divertidas e engraçadas para a criança (com as suas personagens preferidas, por exemplo). Podes sempre comprar cuecas brancas e decorá-las com marcadores próprios com as motivações específicas (letras, números, planetas, países, uma personagem específica, etc). Puxa pela criatividade e pensa naquilo que a criança gosta. Experimenta diferentes tipos: cuecas, boxers, com fibras naturais se a sua criança for mais sensível, etc.Se quiseres, numa fase inicial para não ser tão radical, podes começar por vestir as cuecas por cima da fralda até fazer a transição totalmente.Tirar a fralda e usar cuecas, permite que a criança experiencie a verdadeira sensação de não ter algo que impede o xixi quando ele tem vontade de sair e perceber o que de facto acontece - o xixi sai, a criança fica molhada. Será mais fácil ganhar consciência dos sinais do seu próprio corpo.

6. Prepara-te para alguns acidentes

Porque eles vão acontecer! :-) Se tens coisas em casa que se podem estragar, como tapetes ou sofás de pele, podes cobri-los com um lençol velho ou com capas específicas de proteção. Convém teres sempre à mão uma muda de roupa, cuecas, toalhas velhas, toalhetes, antisséptico para as mãos, etc.Agora que sabes que poderá fazer xixi e enquanto observas para perceber os sinais da criança, começa a incentivar a criança a ir à sanita várias vezes ao longo do dia. Mesmo que não faça naquele momento as suas necessidades, deixe-a a estar lá sentada durante algum tempo - sem esquecer de tornar o momento divertido. Acompanhe o processo, oferecendo explicações à criança, como: "Já passaram algumas horas desde a última vez que fizeste xixi e  talvez precises de ir outra vez. Estou tão entusiasmado/a com isto, vamos outra vez!".Se a criança não fizer na sanita, mas fizer depois no chão, não reproves nem castigues. A criança está em fase de aprendizagem, ainda a assimilar toda esta nova informação e queres motivá-la a continuar o processo e a deixá-la segura e confiante. Se a criança fizer xixi no chão, podes explicar, por exemplo: "Fizeste xixi, da próxima vez vamos tentar fazer na sanita sim?". Não vás a correr tirar de imediato as cuecas, principalmente no verão. Dá tempo a ver se a criança  percebe o que aconteceu, se sente que está molhada. É uma sensação nova, pois antes a fralda protegia-a disso.Tal como referimos, convida a criança a ir regularmente à sanita, mesmo que não vejas sinais, para que comece a tornar-se uma rotina. Faz o convite de forma divertida, de hora a hora, por exemplo.

7. Última nota mas não menos importante...

O autismo é uma perturbação da comunicação e da interação, por isso, quando trabalhamos com a criança/jovem/adulto com autismo, é importante colocar em primeiro lugar a nossa relação com ela, sendo amigáveis, acessíveis e carinhosos.

Dá controlo

Desta forma, quando iniciares a aventura do desfralde, esteja ela na fase que estiver, é importante ofereceres total controlo da sanita. E importante que esta seja uma aventura relaxada e divertida com a criança, livre de pressões. Se a criança se distanciar, fugir ou disser de forma muito convicta que não quer ir à casa de banho, respeita o seu tempo e celebra o facto de te estar a comunicar. Põe o convite em pausa nesse momento, voltando a tentar mais tarde, sem pressionar demasiado. O facto de responderes de imediato à necessidade de controlo da criança, respeitando que ela não quer, vai fazer com que se sinta respeitada e que estás lá para ela. Assim, estarás a criar uma relação de confiança com ela.

Evita manipulação física

Caso a sua criança aceite começar este processo de sentar-se na sanita, recomendamos que diminuas ao máximo a manipulação física. Assim, só deverás mover o corpo dela se a estiveres a ajudar ou a fazer algo que ela própria lhe pediu. Por exemplo, segurar-lhe a mão para a ajudar a sentar-se na sanita e podes até avisar a criança antes de o fazeres - "Agora vou pegar-te ao colo para te ajudar a levantar e a sentar e atenção, 3 2 1.... Aqui vou eeeeeu!". Depois faz uma pequena pausa para dar tempo à criança de assimilar o que lhe estás a comunicar ou até lhe dar a oportunidade de recusar a sua ajuda, caso assim ela o queira. Queremos dar-lhe o máximo de sensação de controlo, pois é ela que lidera este processo, tu apenas está lá para apoiar.No autismo (e não só), quanto mais controlo damos, mais flexíveis se tornam as crianças. Isto porque nós próprios estamos a ser um exemplo claro de flexibilidade e, assim, queremos inspirá-las a fazer igual. Lembra-te que... mais importante do que o que dizemos, é o que fazemos :-)

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