Os desafios sensoriais pessoas com autismo
Existe ainda um desconhecimento muito grande sobre o que é realmente o autismo. A maior parte das pessoas ainda acha que o autismo é um problema comportamental, quando na verdade, o comportamento das pessoas com autismo acaba por ser um sintoma do problema, e não o problema em si.
Sintomas vs causas
As pessoas com autismo comportam-se de forma diferente, é certo, mas todos os comportamentos são sintomas e não as causas.Imagina este exemplo: Se tenho uma comichão no braço, o que vou fazer é coçar o meu braço. Quem olha para o comportamento visto de fora, vai achar que o problema é o meu comportamento e o mais provável é que me diga para parar de coçar.A questão é que o coçar (o comportamento) não é a causa do problema, é um sintoma do problema.Podemos ter várias abordagens para eu parar esse comportamento. Podem-me dar algo para as mãos para me distrair… Podem-me atar as mãos… Podem até ralhar comigo e proibir-me de coçar o meu braço. E até pode resultar por uns momentos… Mas mais cedo ou mais tarde, o comportamento vai voltar…Porque na verdade, não atacamos o problema, mas sim o sintoma.
Adaptar a abordagem
Agora imagina esta abordagem: Em vez de tentar parar ou modificar o meu comportamento, porque não tentar olhar para o problema e entender o problema?Pegar no meu braço e perceber porque estou a coçá-lo. Olhando e observando o problema podemos perceber que o que tenho se calhar é uma picada de mosquito e colocando um creme, a comichão passa.Passando a comichão, o comportamento (coçar) desaparece porque focamos e intervimos no verdadeiro problema.Este exemplo pretende mostrar a diferença entre tentar acabar com os sintomas (comportamentos) vs abordar o principal desafio das pessoas com autismo (socio relacional).O principal desafio das pessoas com autismo é o de criar e manter a conexão no relacionamento com os outros e existem algumas razões para isso acontecer.
Processamento sensorial
Uma das principais razões, é que as pessoas com autismo processam os estímulos de uma forma diferente da nossa e por vezes, têm alguma dificuldade em processar e dar sentido aos inputs que recebem do mundo exterior.A verdade é que todos os dias somos bombardeados por estímulos vindos do exterior. Se pararmos um pouco, estejamos onde estejamos, podemos verificar que de facto há várias coisas a acontecer.Por exemplo, estamos em casa a descansar mas temos o som da TV ligada, ouvimos os carros lá fora a passar ou a apitar, ouvimos o frigorífico a funcionar, os barulhos do andar de cima, etc etc.Na maior parte das vezes nem nos damos conta de todos esses ruídos e é assim que é suposto ser! O nosso cérebro tem a capacidade de filtrar essa quantidade de estímulos, de forma a não termos um bombardeamento sensorial.
A experiência no autismo
Com as pessoas com autismo, essa filtragem processa-se de forma diferente.Todos os estímulos podem chegar ao mesmo tempo, mesmo volume e intensidade e pode ser muito difícil para elas gerir essa entrada repentina e abrupta.De facto, para as pessoas com autismo, muitas vezes o seu dia-a-dia é como se estivessem num aeroporto: confusão, luzes a piscar por todo o lado, muito movimento, barulhos, etc.Tentar perceber a que estímulos a pessoa que acompanhas é mais ou menos sensível e tentar adaptar ao máximo o seu ambiente pode fazer toda a diferença.Já escrevemos um artigo que explica como o fazer. Se ainda não tiveste oportunidade de o ler, descobre tudo aqui: Adaptar o ambiente para evitar sobrecarga sensoriais.Devido aos desafios do processamento sensorial, adaptar o ambiente das pessoas com autismo é fundamental. Por vezes ambientes como a escola podem ser demasiado estimulantes, o que acaba por interferir no desenvolvimento da pessoa com autismo. Tornar o ambiente à volta dela o mais otimizado possível, vai potenciar todo o seu processo de aprendizagem e consequente superação dos seus desafios relacionais :-)